sábado, 14 de abril de 2018

O adeus a Milos Forman

Milos Forman, cineasta tcheco, naturalizado cidadão estadunidentes em 1977, morreu na madrugada deste sábado, 14, aos 86 anos, em sua casa, segundo sua mulher, Martina, informou a agência de notícias CTK.

Por Carolina Maria Ruy*
Entre os principais filmes do cineasta destacam-se: “Um estranho no ninho”, que fala sobre o tormento de um homem aparentemente normal internado à força em um hospício, a situação precária e de repressão enfrentada pelos outros internos e a tentativa do protagonista em se rebelar contra aquela repressão, e “Amadeus”, que mostra um velho Antonio Salieri, também internado em um hospício, contando a história de luxuria, euforia, depressão e loucura que marcaram a vida do compositor Wolfgang Amadeus Mozart. Diz a lenda que Salieri, compositor italiano, tinha uma relação conturbada com Mozart, e esta relação é retratada no filme onde lhe é atribuída a afirmação de que “Deus preferiu matar Mozart a permitir que ele, Salieri, partilhasse de uma parcela ínfima de sua glória. Amadeus recebeu oito Oscars (foi a segunda estatueta de melhor diretor de Forman, que também recebeu um Oscar por ‘Um Estranho no Ninho’) e se transformou em um dos títulos mais emblemáticos dos anos oitenta.

Hoje, 14 de abril de 2018, entretanto, dia em que EUA, Reino Unido e França lançaram ataque contra a Síria, dia em que perdemos Milos Forman, vale lembrar de outra grande obra do diretor, um belo filme contra a guerra, baseado em uma peça de teatro: Hair.

Em Hair a imagem do sério, pacato e provinciano Claude Bukowski, de Oklahoma, que chega em Nova York com o objetivo de servir na Guerra do Vietnã, contrasta com a imagem dos libertários e pacifistas hippies, para quem a guerra entre os Estados Unidos e o Vietnã era o próprio descaminho. Perdido na grande cidade Bukowski se aproxima, ao acaso, do grupo de hippies. Segue-se daí um caleidoscópio musical que cada vez mais envolve o jovem de Oklahoma.

O embate entre o conservadorismo e a contra cultura em reação à entrada dos EUA na Guerra do Vietnã, em 1965, dá o tom do filme. Muitos veem Hair como uma expressão do movimento hippie. De fato, o filme registra o modo de vida daqueles jovens, descendentes dos beatniks, que se recusaram a participar da guerra. Seus modos, avessos às regras sociais, assumiam uma atitude política-ideológica, contra a hipocrisia e o consumismo da sociedade estadunidense.

Mas mais do que uma obra sobre o movimento hippie, Hair trata do despreparo dos jovens para a guerra. A tropa marchando em direção ao avião que seguirá ao campo de batalha, no conflito final, dá um novo sentido ao filme.

Na tristeza estampada no semblante dos soldados vemos que toda aquela preparação a que são submetidos não basta, e entendemos que nenhum jovem está realmente preparado para matar ou morrer na guerra.

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