terça-feira, 24 de abril de 2018

TARAUACÁ: VILA SEABRA (TARAUACÁ): ATA DA INSTALAÇÃO E INAUGURAÇÃO


O texto, a seguir, foi retirado de O Cruzeiro do Sul, jornal oficial da Prefeitura de Cruzeiro do Sul, Acre, publicado no dia 3 de fevereiro de 1907 (Ano II, N.30). Traz-nos informações relevantes do início da história político-administrativa de Tarauacá. O seringal Foz do Muru foi elevado à categoria de Vila em 1.º de janeiro de 1907, com o nome de Seabra, integrado ao Departamento do Alto Juruá, pois o Departamento do Tarauacá só seria criado em 1912. A Vila tornar-se-ia cidade, e sede do Departamento do Tarauacá, em 24 de abril de 1913.

VILA SEABRA

Inauguração 


Escrevem-nos:

“Na foz do Muru foi inaugurada no dia 1 de janeiro a vila Seabra, em um terreno de 250.000 metros quadrados, cedido à Prefeitura, sem o menor ônus, pela firma J. V. de Menezes & Filho, proprietária do seringal Novo Destino.

Em um almoço que se realizou no dia 24 de Dezembro na casa de residência dos Srs. Coronel Juvêncio Victorino de Menezes, oferecido ao Prefeito, aqueles comerciantes ofereceram gentilmente o referido terreno, para a criação da vila, procurando assim promover o desenvolvimento do Tarauacá.

Resolvida a criação da vila, que viria a tomar o nome do eminente estadista José Joaquim Seabra, o Prefeito designou o dia de Ano Novo para a sua inauguração, que se revestiria de toda a solenidade.

Para esse ato era preciso derrubar parte da espessa floresta da margem esquerda do rio Tarauacá, na foz do rio Muru, em uma belíssima terra firme, que se prolonga em planície até grande distância, e imediatamente vários proprietários, entre os quais os concessionários do terreno, o Sr. Raymundo Costeira e o Sr. Coronel Ramiro Chaves, ofereceram o pessoal necessário para a derrubada.

Esse penoso serviço foi iniciado, entrando em ação cerca de 30 homens, pondo abaixo árvores enormes, com muita dificuldade, até que, com admiração geral, no fim de quatro dias, já estava aberta a avenida principal, numa largura de oito metros, a qual começa ao lado do edifício do Posto Fiscal e vai até a terra firme, desembocando numa grande praça, que também ficou pronta e até destocada.

Todo esse serviço foi fiscalizado em pessoa pelo Prefeito, que teve como seu auxiliar o engenheiro Dionysio Dantas, que prestou gentilmente relevantes serviços.

Em meio da avenida, que o Prefeito deu o nome de D. Constância, onde passa um igarapé, aquele engenheiro construiu uma ponte de paxiúba, trabalho que foi muito elogiado pela sua segurança e bem acabado.

A praça, onde vai essa avenida desembocar, o Prefeito denominou-a “Primeiro de Janeiro”, em homenagem à data da inauguração a vila.

No decorrer da avenida, no seu lado direito, foi apenas cortado o mato, ficando as grandes árvores, formando belíssimo e encantador bosque que foi denominado “Anisio de Abreu”, tornando-se um lugar aprazível para recreios.

Na vila foram demarcadas as ruas, ficando as da frente com os nomes de: Coronel Frota e D. Inocência; as paralelas: Raymundo Cidade, Coronel Patriolino e Coronel Juvêncio; e as perpendiculares: Esquinauas, Catuquinas, Jaminauas, Colinas e Capanauas.

Todas a tabuletas, com a denominação das ruas, praça, avenida e bosque foram pintadas pelo Sr. Franz Schoenemann, concorrendo todas as pessoas com os contingente de seus esforços para o desenvolvimento da vila.

Assim, tendo o Prefeito encontrado a melhor vontade por parte do laborioso povo do Tarauacá, no dia marcado realizou-se a inauguração da Vila Seabra, que foi uma belíssima festa, reunindo-se, ali, muitas famílias em alegre convívio, e proprietários de seringais.

No porto estavam ancorados os vapores Loreto, Manauense, Jacy e Correia Braga, cujos comandantes também compareceram, com a sua oficialidade, sendo todas as embarcações embandeiradas em arco. Pela manhã, a lancha da Prefeitura, que também estava embandeirada, deu as salvas do estilo, de 21 tiros, correspondendo todos os vapores surtos no porto.

Na praça Primeiro de Janeiro, em frente a avenida, foi levantada uma barraca-palanque, onde se colocou uma mesa, cadeiras e o necessário para o solene ato.

Esse palanque foi devidamente enfeitado, hasteando-se à sua frente, em um grande mastro, o pavilhão nacional.

Ao meio dia desembarcou, fardada e armada, a guarnição da lancha da Prefeitura, indo formar em linha ao lado do palanque, para prestar as continências ao chefe do Departamento.

Uma hora depois chegou a professora D. Virgina de Araújo Barros, acompanhada de seus alunos, e logo em seguida começaram a chegar as famílias e mais convidados.

Formou também a força do Exército, sob o comando do 2.º Tenente Candido Thomé Rodrigues.

Pouco depois chegava no local o Prefeito, dando o clarim o toque de sentido, e depois de general em chefe.
Ex., depois de receber os cumprimentos das pessoas presentes, tomou assento à cabeceira da mesa, ficando ao seu lado esquerdo o Juiz de Distrito, Exmo. Sr. Dr. Saturnino Santa Cruz Oliveira, e ao seu lado direito, o seu oficial de gabinete Raul Costa.

Lavrado o respectivo decreto da criação da vila, o Dr. Prefeito mandou ao seu oficial de gabinete lê-lo em voz alta e logo em seguida a ata da instalação e inauguração da vila.

Terminada a leitura da ata, o Sr. Juiz pediu a palavra e leu um belo discurso em que fazia apologia do estadista que deu o nome à vila e saudava o povo do lugar por ter concorrido de modo tão brilhante para o progresso do Departamento.

Em seguida o Sr. Dr. Prefeito usou da palavra e, em frases buriladas, pronunciou belíssimo discurso, recebendo ao finalizar prolongada salva de palmas.

Nessa ocasião os alunos da escola Amazônia ofereceram a S. Ex. um ramalhete de flores, erguendo calorosos vivas.

Terminada a cerimônia retiraram-se todos para a sede do Posto Fiscal onde foi servido um copo de cerveja, reinando sempre a maior cordialidade.

Querendo demonstrar também o seu contentamento pelo progresso que o Prefeito ia dando ao Departamento, o comandante do vapor Loreto, Sr. Rodolpho Pampolha, ofereceu a Sr. Ex. um jantar, convidando a sua comitiva e demais pessoas.

À hora marcada, 6 da tarde, o navio começou a se encher de senhoras, senhoritas e cavalheiros, até que chegou S. Ex. acompanhado do juiz, do seu oficial de gabinete, do encarregado do Posto, Sr. Major José Pereira, do escrivão do mesmo, Sr. Capitão Vale e Silva, e outras pessoas.

A entrada de S. Ex. no vapor, que estava ornamentado com apurado gosto, foi solto um foguetão e dada salva de 21 tiros, correspondendo todas as embarcações.

A Loreto, debaixo da salva, hasteou o pavilhão de governador, e o seu comandante, auxiliado pela sua oficialidade e pelo representante da casa proprietária do navio, Sr. Jayme Nicolau, conduziu S. Ex. e demais convidados para a mesa do banquete, cujo menu foi variadíssimo.
Ex. tomou lugar à cabeceira, seguindo-se-lhe as senhoras presentes, e na outra cabeceira tomou lugar o Sr. Jayme Nicolau.

Ao champagnhe, o Sr. Manoel do Vale e Silva, comissionado pelos moradores no Tarauacá, representados pelos Srs. Coronel A. Frota de Menezes, Coronel José Marques e Tenente-Coronel José Victorino de Menezes, saudou o Dr. Prefeito, em breves frases mas eloquentes.

O Dr. Prefeito agradeceu e desenvolveu a vida política do Homem que dera o nome a vila, o qual o considerava como o grande mestre.

Em seguida o Sr. Dr. Francisco de Paula Faria e Souza saudou ao Dr. Seabra como o seu mestre também, falando novamente o Dr. Prefeito.

Usou da palavra depois o Sr. Coronel José Marques, que brindou o Dr. Prefeito como seu admirador.

Este agradeceu e brindou o comandante da Loreto, agradecendo a gentileza que lhe dispensou.

Fechou a série dos brindes o Dr. Faria e Souza que saudou esposa do Dr. Prefeito.

Findo o banquete retiraram-se todos, sempre na maior alegria.

No dia seguinte, 2, o Sr. João Vinhas, comandante do vapor Manauenseofereceu um almoço ao Dr. Prefeito, ornamentando para esse fim o seu navio.

Ao meio dia foram todos para bordo, sendo S. Ex. recebido com as salvas do estilo.

Ao champagne falaram: o Dr. Faria e Souza, em nome de comandante, oferecendo o almoço ao Dr. Prefeito; o Coronel Belarmino Porto, saudando o Prefeito em nome do povo do Tarauacá; o Sr. Napoleão Ribeiro, em nome da família cearense, saudou o Prefeito; e o Prefeito agradeceu a todos.

Ao se retirarem, foram dadas novas salvas.

Na vila serão construídos os edifícios seguintes:

Igreja – Pelo Sr. Coronel Antonio da Frota de Menezes.

Cadeia e Quartel – Pelos Srs. Coronel Belarmino da Silva Porto, Pereira Lima e Luiz de Melo.

Capela e cemitério – Pelos Srs. Coronel José Marques e Major José Pereira de Araújo Barros.

Edifício para o comando superior da Guarda Nacional – Pelo Coronel Juvêncio Victorino Menezes.

Escola – Pelos Srs. Frota Fortuna & C., Antonio Frota & C., e Souza Irmão & C.

Casa da câmara – Pelo Sr. João Francisco Teixeira Sobrinho e outros.

Posto Federal – Pelo Sr. Comendador Pinho, da casa Melo & C.

Coletoria da Prefeitura – Pelos Srs. Souza Nunes & Prado, Antonio Ferreira Lima e Silvino Cabral.

Enfermaria – Pelos Srs. La Roque, David Martins, José Petter, Rodolpho Pampolha, Manoel Antonio de Souza Marques e Raymuno de Oliveira.

Todos esses cidadãos farão as construções à suas expensas.

– O Sr. José Victorino encarregou-se de fazer a derrubada de toda mata, empregando para isso 25 homens.

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ATA DA INSTALAÇÃO E INAUGURAÇÃO DA “VILA SEABRA”

Ao primeiro dia do mês de janeiro do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil novecentos e sete, décimo nono da República, neste lugar Foz do Muru, Primeiro Posto Fiscal do Juruá, margem esquerda do rio Tarauacá, Departamento do Alto Juruá, Território do Acre dos Estados Unidos do Brasil, onde se achavam presentes o Prefeito do Departamento Exm. Sr. Dr. João Virgolino de Alencar, o Juiz do Distrito do Departamento Exm. Sr. Dr. Saturnino Octaviano Santa Cruz Oliveira, o oficial de Gabinete Raul Costa, o engenheiro civil Dionysio Dantas, o Chefe do Serviço Sanitário da Prefeitura Dr. João C. Ferreira de Melo, o Juiz de Paz da 2.ª Circunscrição Coronel Antonio Frota Menezes, o 1.º Delegado Auxiliar de Polícia Tenente Candido Thomé Rodrigues, o Tabelião de notas Arthur Sergio Ferreira, o Encarregado do 1.º Posto Fiscal Major José Pereira de Araújo Barros, o Escrivão do Posto Capitão Manoel do Vale e Silva, o comandante geral das embarcações da Prefeitura Francisco Amandio, a Professora da Escola Amazônia D. Virgina de Araújo Barros, os comandantes dos vapores “Manauense”, “Loreto”, “Jacy” e “Correia Braga” ancorados neste porto, Jayme Nicolao Soares da Costa, representante da casa Melo & C., Luiz Patriolino Filho, representante da casa Oliveira Andrade & C., Raymundo dos Santos Costeira, representante de Fernandes Teixeira & C., Gualter Ribeiro, representante da Andresen Succrs., Dr. Francisco P. de Faria e Souza, negociantes Angelo Ferreira da Silva, Franz Schoenemann, Coronel José Marques de Albuquerque, Salvador R. Mendes, Francisco Olympio da Frota, Manoel Elysio Frota, senhoras e mais pessoas gradas como se vê abaixo assinadas.

Compareceram o Cel. José Victorino de Menezes e sua mulher, a Exm. Sr.ª D. Constância de Albuquerque de Menezes, por si e representando o Cel. Juvencio Victorino de Menezes e sua mulher a Exm. Sr.ª D. Inocência de Albuquerque Menezes, e declaram que vinham entregar ao Exm. Sr. Prefeito Dr. Virgolino de Alencar a escritura pública de doação que faziam à Prefeitura representada em sua pessoa, como representante do Departamento.

O Exmo. Sr. Dr. Prefeito agradeceu a valiosa dádiva e aproveitava a ocasião para ler o decreto criando a “Vila Seabra”. Em seguida foi colocada a tabuleta em que se lê: “Vila Seabra. Instalada na administração do Exmo. Sr. Dr. Virgolino de Alencar, em 1 de janeiro de 1907.”

Nessa ocasião salvaram as embarcações ancoradas no porto. O Dr. Prefeito ainda mandou colocar as tabuletas: “Avenida Dona Constância e Bosque Anisio de Abreu”, e agradeceu ao ilustre engenheiro Dionysio Dantas os seus serviços profissionais feitos na abertura da praça, avenida, bosque e construção da ponte e mais trabalhos que executou no referido lote de terra onde acaba de ser instalada a Vila Seabra. Denominou a avenida da frente com os nomes: Coronel Frota e D. Inocência, e as ruas paralelas à esta Raymundo Cidade e Coronel Patriolino, à outraCoronel Juvêncio; às perpendiculares, a começar do lado de cima, denominadasEsquinauas, Catuquinas, Jaminauas, Caxinauas, Colinas e Capanauas; e a praça onde desemboca a avenida D. Constância, Primeiro de Janeiro.

Ao terminar esta declaração salvaram as embarcações e o Exm. Sr. Dr. Prefeito mandou que eu escrevesse esta ata, afim de ser assinada por todas as pessoas presentes. Eu, Raul Costa, oficial de Gabinete, servindo de secretário, a fiz e a assino.

João Virgolino de Alencar, Saturnino Santa Cruz Oliveira, Constância Albuquerque Menezes, Maria do Prado, Virgina de Araújo Barros, Emília Queiroz Cavalcante, José Victorino de Menezes, Candido Thomé Rodrigues, Alexandre Mendes de Oliveira, José Marques de Albuquerque, Arthur Sergio Ferreira, Antonio Gentil de Menezes, Henrique B. de Oliveira, Antonio Frota de Menezes, Alvaro Sobralino de Albuquerque, Sansão Gomes de Souza, Xavier Giordani, Antonio Campos Ribeiro, Franz Schoenemann, Francisco Hermenegildo, Manoel Elysio Frota, José Richelieu, M. Orcel de Araújo Filho, Raymundo Gonçalves Pinheiro, Pedro A. Chaves, Manoel do Vale e Silva, Francisco Pio Machado, Gualter Ribeiro, Jayme Nicolau, F. P. de Faria e Souza, José Sapho, Nelson de Oliveira, Antonio Mendes da Silva, Francisco Saldanha, Francisco Fortuna, Mauricio Lima, Romualdo O. Rodrigues, Sylvio Cyrilo Marques, Antonio de Serpa, Manoel Furtado Cavalcante, Francisco Olympio da Frota, Angelo Ferreira da Silva, João Vinhas, Antonio Soares dos Santos, José Albertino de Souza Pereira, Theodolino do Areal Souto, Geraldo das Mercês Pereira, Carlos Augusto Costa, José Antônio, Henrique Costa, Raymundo Costa Melo, Alberico Ribeiro Messias, José Raymundo Satyro, Trajano Altino de Almeia, Conegundes Ferreira de Oliveira, José Gualdêncio da Costa, José Angelo Cavalcante, José Pereira de Araújo Barros, Dionysio Dantas, Leonel Junior, João C. Ferreira de Melo, Raul Costa.

Jornal O Cruzeiro do Sul (orgam official), Cruzeiro do Sul, 3 de fevereiro de 1907, Ano II, N.30. p.1-2

Por Isaac Melo

Blog Alma Acreana

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