segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Temer alerta Meirelles e Maia sobre risco de guerra

Sem reforma da Previdência, sonhos eleitorais morrem

KENNEDY ALENCAR 
SÃO PAULO

Desde o novo rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s na semana passada, a principal preocupação do presidente Michel Temer é evitar que essa decisão contamine negativamente as expectativas e atrapalhe uma recuperação mais consistente da economia esperada por ele e sua equipe a partir de março e abril.

Na avaliação da equipe econômica, haveria dessa época em diante uma melhora mais sensível na geração de empregos e no crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) que poderia ser sentida pela população. Temer conta com uma recuperação mais consistente para melhorar a avaliação do governo e, consequentemente, dar mais peso a ele e à sua administração na disputa eleitoral.

O primeiro passo é tentar acabar com o mal-estar recente entre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-DF). Meirelles e Maia se estranharam na desastrada tentativa de modificar a regra de ouro, o que permitiria aumentar o endividamento do Brasil para honrar despesas correntes.

Os dois trocaram farpas sobre a responsabilidade pela não aprovação até o momento da reforma da Previdência, quando comentaram a redução da nota de crédito do país. Meirelles empurrou a culpa para o Congresso de forma mais aberta do que fez o presidente, que divulgou nota pedindo apoio dos deputados e senadores para votar medidas de interesse do país. Maia devolveu a bola ao governo, dizendo que a base de apoio na Câmara se enfraqueceu após arquivar duas denúncias contra o presidente da República.

Temer disse a Meirelles que o governo não pode brigar com Maia. Ao mesmo tempo, o presidente sinalizou para aliados do presidente da Câmara, como o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, que, sem o apoio do governo e a aprovação da reforma da Previdência, não haverá chance de prosperar o sonho presidencial de Maia.

Estariam todos unidos na dificuldade. Tanto Meirelles como Maia dependem da reforma da Previdência e de certo êxito do atual governo para sonhar com o Palácio do Planalto. Por mais que o DEM diga que precisa ter uma identidade própria, o destino político do partido está ligado ao sucesso ou fracasso de Temer.

No cenário de guerra entre Meirelles e Maia, o maior beneficiário no campo das forças que apoiam o governo, de centro-direita e direita, seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, nome mais cotado para ser o candidato do PSDB à Presidência.

Alckmin guardou mais distância do governo, apesar de o PSDB ser um dos avalistas da gestão Temer e ter apoiado o impeachment de Dilma. Ou seja, como é da natureza tucana, há maior ambiguidade do PSDB e de Alckmin em relação a Temer.

Meirelles e Maia não podem ser tão dúbios pelo papel que desempenharam no Ministério da Fazenda e na Câmara, articulando projetos de interesse do governo. Se o presidente da República não conseguir aprovar a reforma da Previdência e outras medidas fiscais de interesse do governo, ele correrá o risco de terminar mal a sua administração. Mas o ministro da Fazenda e o presidente da Câmara também poderiam dar adeus às suas candidaturas presidenciais.

Ouça o comentário no “Jornal da CBN”:

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