sábado, 17 de fevereiro de 2018

MORRE O SOLDADO DA BORRACHA EDSON MACHADO


Edson Machado Portela, nascido em 11/03/1915, natural do Estado do Ceará, viveu intensamente sua juventude. Foi um cearense herói, veio ao Estado do Acre para produzir borracha para os países aliados, na segunda Guerra Mundial, onde decidiu permanecer e constituir sua família.

Homem de vigor, respeito, responsabilidade e acima de tudo, honesto. Foi pai de 14 filhos que receberam dele todos os princípios necessários para a formação de seres humanos do bem.

Seu Edson Portela, faleceu nesta quinta-feira (15), na cidade de Rio Branco/AC.

Nesse momento de dor e consternação só nos cabe pedir a Deus que lhe ilumine e lhe dê paz, e que Deus dê o conforto a sua família para que possam enfrentar esta imensurável dor com serenidade.

Deixamos os nossos mais sinceros pêsames aos familiares e amigos.

Mônica Portela


EDSON MACHADO PORTELA – 11/03/1915 – 101 ANOS DE HISTÓRIA Aos 29 anos de idade, por conta de um decreto governamental, o senhor Edson Machado Portela teve que escolher entre ir para 2ª Guerra Mundial ou vir para o Acre cortar seringa. Mesmo vindo para o Acre a possibilidade de guerrear ainda não estava descartada, pois, se necessário fosse, fariam guarnição na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru. Veio para o Estado com a promessa ilusória de indenização por parte do governo norte americano, foi o soldado da borracha nº 29761. 


Meu avô e os demais soldados, embarcaram rumo ao norte do país no dia 22 de agosto de 1944, chegando ao destino final, o seringal União, localizado em Vila Seabra (atual Tarauacá), somente no dia 27 de dezembro do mesmo ano. Aqui chegando, o trabalho era desafiador: reabrir os seringais de seringa nativa e produzir o látex para abastecer os países aliados na guerra mundial. 

Durante os 04 meses que passaram em viagem, os homens recebiam treinamento de guerra e sofriam com as moléstias amazônicas. Muitos deles ficaram pelo caminho. Ao chegar nas terras acreanas, meu avô, assim como muitos outros, teve que enfrentar as intemperes da natureza, desde os fenômenos meteorológicos, até a fúria dos animais ferozes, disputar espaços com indígenas e se submeter as doenças tropicais, porque toda a assistência médica que receberam, ficou nas embarcações que os trouxe até o inferno verde. No vigor da idade, seu Edson, homem cearense, branco dos olhos claros, constituiu família, como era de se esperar, com uma nativa. Uma bela índia, filha de índios selvagens e nordestinos. 

Dessa união nasceram 14 filhos, sendo eles: Mariana, Lucila, Francisca, Eudes, Maria do Carmo, Raimundo Nonato, Herotildes, José Ribamar, Bartolomeu e Mariano. Tendo falecido Francisco das Chagas, Francisca das Chagas, Raimunda Nonata e Emanoel. A família da dona Francisca e do seu Edson, não fugiu as regras da história de imigrantes que desbravaram nosso Estado e aqui fincaram raízes. A própria dona Francisca, já era fruto da imigração nordestina, pois era filha de indígenas com um paraibano. Assim como toda família amazônica e ribeirinha, seu Edson e seus familiares passaram mais de 40 anos nos seringais acreanos. De lá retiravam todo seu sustento. 

Além das atividades com a seringa, foram exímios agricultores, sobreviveram da caça e da pesca. Mesmo com o trabalho árduo, resistiram às inúmeras doenças, às feras e não enriqueceram com o suor derramado nas estradas de seringa. Dos 10 filhos vivos, todos tiveram acesso ao sistema de ensino, mas, apenas duas cursaram nível superior e pós-graduação, uma outra tem curso técnico e, os demais sabem ler e escrever. Nossa família é imensa. Somos mais de 48 netos 50 bisnetos e 01 trineto. Meu avô nunca recebeu a indenização prometida e que foi paga aos militares que foram para guerra. 

Após completar 65 anos de idade, teve acesso a uma aposentadoria de “Soldado da borracha”. Perdeu a lucidez antes de receber a famosa indenização no valor de R$ 25 mil. Até os 98 anos, meu avô era uma lenda viva e lúcida, até o falecimento da minha avó, ele sempre respondeu por todos os atos, sempre resolveu seus problemas. 

Até hoje é um homem são. Com a idade perdeu a visão, mas esta não parecia lhe fazer falta, pois tinha perfeita audição e memória. Sua memória era invejável, como ouvia muito rádio, sabia de tudo que estava acontecendo no mundo, sabia o nome de todos os continentes com os países e as referidas capitais. Sabia as moedas de todos os países, a língua falada. É e sempre será uma pessoa admirável. Foi vitorioso em todos os sentidos. Foi exemplar como pai, foi companheiro, bom amigo, honesto e verdadeiro. Todos os seus filhos tiveram como exemplo, um pai honesto e incentivador quanto ao trabalho e a vida. 

Os filhos tiveram no pai o espelho do trabalho e da honestidade e, na mãe a doçura e proteção, além da bondade e justiça. Após o falecimento da minha avó, meu avô não foi mais a mesma pessoa. A lucidez cedeu espaço ao vazio. O que era felicidade, se transformou em um triste e longo silêncio. O que antes não me deixava falar de tantas histórias que contava, agora quando me apresento, começa a cantar. Ele que além de meu avô é meu padrinho, juntamente com a minha avó, a eterna “mãezinha”, porque todos os seus netos a chamavam assim, foram capazes semear sementes lindas em nossos corações. Até o privilégio que ele dispensava a alguns netos era especial, coisas simples como dar uma moeda para comprar pão, ou trazer um ovo azul de galinha caipira, só para agradar. Meu avô é um homem, que apesar da pouca educação, criou todos os filhos voltados para o trabalho e para religião. 

Foi temido na juventude e respeitado pela seriedade e honestidade dispensada ao próximo. Ensinou aos filhos a bondade, a seriedade, o compromisso com o outro. Criou homens e mulheres dignas e honestas. Durante sua extensa história teve a oportunidade de retornar a sua terra natal juntamente com minha avó.gem...

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