sexta-feira, 3 de agosto de 2018

PM dá voz de prisão após servidor negar prontuário de paciente no DF

Funcionário do Hospital Regional do Gama alegou que o registro médico só poderia ser entregue ao próprio paciente ou sob decisão judicial

REPRODUÇÃO

Um técnico administrativo do Hospital Regional do Gama (HRG) foi preso após negar a policiais militares a emissão do documento pessoal de um paciente. Toda a ação foi filmada por colegas de setor e mostra Gerson Rodrigues da Silva, 46 anos, dizendo só sair do local algemado, após receber voz de prisão por desacato.

O caso ocorreu por volta das 22h40 dessa segunda-feira (30/7), quando os PMs solicitaram ao servidor a emissão da Guia de Atendimento de Emergência (GAE) de um homem preso e atendido no HRG cinco dias antes.

A intenção dos PMs, conforme informou a corporação, era comprovar que as lesões sofridas pelo detento ocorreram antes da abordagem e, assim, resguardar a autoridade policial quanto a falsas acusações de agressão.

Na versão do servidor, a ficha solicitada era referente ao atendimento de um paciente que havia passado pela unidade de saúde cinco dias antes. “Normalmente, a gente puxa do sistema, mas naquele momento estava fora do ar, e lá [no HRG] também não tem impressora. De qualquer forma, não é atribuição minha e eu sou proibido por lei de fornecer essa informação. Eu orientei a procurarem a GAE pela manhã, e o policial continuou insistindo. Na terceira tentativa de explicar, ele me mandou calar a boca”, disse Gerson ao Metrópoles.

O técnico contou que, após o PM ter se exaltado, ele retrucou: “Você não fale comigo assim, eu estou no meu local de trabalho exercendo minha função”. Nesse momento, conforme contou o servidor, o militar deu voz de prisão.

Delegacia
Após anunciar que o homem seria levado para a delegacia, o PM teria chamado reforço. “Quando os outros chegaram, o tratamento foi outro, muito mais educado. Quiseram me levar para a delegacia, mas eu disse que só sairia dali algemado. Tentaram me convencer do contrário, mas acabaram me algemando mesmo. Antes de entrar na DP, tentaram tirar minha algema e acabaram causando um edema no meu braço”, narra Gerson.

Em depoimento, o PM responsável pela prisão do técnico alegou o cumprimento de normativos internos a pedido de um delegado da Polícia Civil, para obter dados do atendimento médico. Segundo contou, o servidor o recebeu de maneira agressiva e teria gritado: “Não vou pegar nada. Vocês não estão falando com suas negas”.

O que dizem a direção do hospital e a PMDF
A direção do Hospital Regional do Gama informou que, por se tratar de um documento pessoal, somente é permitida cópia do prontuário ao próprio paciente, ou por terceiro autorizado por ele. Do contrário, só poderia ser fornecida com uma solicitação judicial.

“O policial não se contentou com a explicação do atendente e deu voz de prisão por desacato. O servidor da Saúde foi conduzido até a delegacia e lá foi constatado não haver qualquer crime e ele foi liberado”, diz a nota encaminhada ao Metrópoles.

A PM alegou que o servidor do HRG estava muito nervoso e negou a entrega da cópia da GAE aos policiais. Além disso, ele teria desrespeitado os militares na frente de pacientes à espera de atendimento e de outros servidores da unidade de saúde.

Na versão informada pela PM, Gerson recebeu o alerta de que se continuasse com o tratamento desrespeitoso, seria conduzido à delegacia, e isso o teria deixado ainda mais agressivo. “Os policiais fizeram uso da algema, visto que o detido apresentava grau elevado de agressividade, o que poderia colocar em risco a integridade física da equipe policial e do próprio detido”, disse a PM.

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