Por Fábio Pontes - Twitter: @fabiospontes
Há exatos 30 anos, no
fim de uma tarde de 22 de dezembro de 1988, o líder seringueiro Chico
Mendes era assassinado a tiros no quintal de sua casa, quando se
preparava para tomar banho. O crime ocorrido na então isolada Xapuri,
logo repercutiria e ganharia as páginas dos jornais de todo o mundo.
Afinal, não se trava de
apenas mais um crime em uma Amazônia já tão marcada pela violência,
resultado da disputa por terras. Tinham tirado a vida do homem que
liderava seringueiros na luta contra a transformação da floresta em
grandes campos para a pastagem do gado.
Chico Mendes e seus
companheiros resistiram o quanto pode – foi à sede da ONU, em Nova York,
relatar o que por aqui acontecia – mas a bala do assassino que estava
de tocaia parecia encerrar uma história e uma luta em defesa da
Amazônia.
Apenas parecia, pois o
legado de Chico Mendes ficou para a posteridade. Com a repercussão do
crime e a pressão internacional, o Brasil se viu obrigado a não apenas
identificar e julgar os assassinos, como também iniciar uma forte
política ambiental de preservação da floresta.
A partir de então, o
país intensificou sua legislação e políticas de proteção ambiental.
Deram-se os primeiros passos para a criação das unidades de conservação.
Entre elas as reservas extrativistas, modelo defendido por Chico que
conciliava a geração de renda para as famílias na floresta, a partir da
exploração sustentável de seus recursos.
Em três décadas desde a
morte de Chico Mendes, o Acre (sua terra natal), foi comandado por 20
anos pelo PT, partido em que ele militou. Neste período foi implementada
a chamada florestania pelo governo do engenheiro florestal Jorge Viana
(1999-2006).
O objetivo era tirar do
papel os sonhos e as ideias do líder seringueiro. Como o ex-governador
costumava dizer, era levar a cidadania para os moradores da floresta.
Muitos investimentos
foram feitos para que o Acre fosse apresentado ao mundo como referência
de desenvolvimento sustentável, mostrando que era possível conciliar
crescimento econômico com preservação ambiental.
Empreendimentos verdes
foram construídos, políticas de subsídios para valorizar os produtos
florestais adotadas. Ao mesmo tempo, o Acre vinha fortalecendo a
atividade econômica que mais contribuia para o desmatamento: a pecuária.
Pecuária x florestania
Desde a década de 1970 a
criação de boi demonstrava ser a grande vocação econômica acreana. Por
aqui, num clima quente e úmido, o animal se adaptou facilmente, e tinha
fartura de pasto para a engorda. Até hoje a atividade é a mais rentável
na economia rural do estado.
A florestania tinha que
competir com o boi e seu alto valor de rentabilidade. O animal está
presente em todos os cantos do estado, até mesmo na Reserva Extrativista
Chico Mendes, por onde seu idealizador andou e militou contra o avanço
da pecuária.
Sem competitividade,
logo a florestania definhou e os próprios governos petistas deram uma
guinada, passando a priorizar uma economia mais rural – porém moderada
para não afugentar investidores (sobretudo os estrangeiros) que ainda
apostavam na economia verde.
Neste período, o Acre
fortaleceu sua política ambiental. O estado mantém preservada 86% de sua
cobertura florestal. Um dos investimentos foi no mercado de carbono e o
pagamento por serviços ambientais; o governo recebe recursos por manter
a floresta em pé.
Passados 30 anos da
morte de Chico Mendes, o Acre vê todos os avanços conquistados em sua
política ambiental ameaçadas. O próximo secretário de Meio Ambiente –
que assumirá no governo eleito de Gladson Cameli (PP) – é um ruralista
sem a mínima experiência na área.
Antes, a equipe de
transição de Cameli cogitou fundir a pasta do Meio Ambiente com a da
Agricultura – repetindo aqui o que era defendido pelo presidente eleito,
Jair Bolsonaro, e depois recuado.
Junto a isso, há o
discurso de Gladson Cameli de praticamente escancarar o Acre para o
agronegócio, fomentando o plantio de grãos (leia-se soja). Nos últimos
anos, a monocultura se apresentou como uma das grandes causas para o
desmatamento na Amazônia.
Desmatamento que cresce
ano após em toda a região. Em 2018 o destaque foi para Acre, que liderou
o ranking entre os estados do Norte. Aumento de 80% na comparação com o
período anterior. Para o governo Sebastião Viana, foi uma “surpresa”
este resultado.
A se analisar o que já
foi dito até aqui tanto pelo novo governador do Acre quanto pelo
presidente da República, é de se esperar que estes números cresçam ainda
mais. Os próximos 30 anos sem Chico Mendes serão ainda mais
desafiadores.
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