sexta-feira, 7 de junho de 2019

LEANDRO MATTHAUS ENTREVISTA EX PREFEITO RODRIGO DAMASCENO


O editor do Portal Tarauacá, Leandro Matthaus, conseguiu entrevistar com exclusividade o ex-prefeito de Tarauacá (2013 a 2016), Rodrigo Damasceno, a primeira entrevista depois da desfiliação do Partido dos Trabalhadores. No papo bato via WhatsApp, Damasceno falou das ações que desenvolveu como gestor, da boa relação com o seu companheiro de chapa, na qual põe no rol das pessoas que faz política com seriedade, também disse que não disputará mais eleição, pois se dedicará a sua profissão de médico obstetra e a sua família.

Segundo Rodrigo, sua derrota foi motivada pelo seguinte fato: a maioria das pessoas não visam o coletivo, mas, sim, as vantagens individuais, além disso, é difícil as pessoas sérias se manter no meio político. “Em Tarauacá, para uma parcela da população se você não fizer no individual, você não fez nada! ”.

Portal Tarauacá: depois da derrota FPA em 2018, você deixou o PT. Sua saída é visando disputar a eleição sem a contaminação da onda antiesquerda? 

R: Não foi esse o intuito da minha saída do PT! Sai por entender que se não há mais pretensão de disputar uma eleição, não vi motivos de continuar filiado. Acho que dei minha parcela de contribuição para minha cidade e tenho que me focar mais, nesse momento, em minha profissão e família! 

PT: Nas últimas duas eleições para o executivo local, você venceu Marilete na disputa da reeleição, ela também fez o mesmo com você. Contudo, a gestora não está sabendo aproveitar a nova oportunidade. Se o povo lhe elegesse mais uma vez, o que faria de diferente?

R: Como lhe disse anteriormente não me vejo mais como gestor. Mas se eu pudesse voltar atrás e modificar algo, seria ter escolhido e indicado todos os secretários e cargos de confiança mais importantes. E, não cedendo por pressões de grupos políticos ou econômicos. Acho que devemos governar com todos os partidos, mas quem deve escolher as pessoas dos partidos para contribuir com a gestão é justamente o prefeito, e temos que ter um perfil técnico que não queira fazer mais política do que o prefeito, pois no final será este que será avaliado e julgado. Gastava muita energia e esforço fazendo trabalho que o secretário deveria tá fazendo. E isso acabava me causando desgaste.

PT: Você e seu vice-prefeito [Chagas Batista] foram um dos poucos na história política de Tarauacá que não romperam no decorrer do mandato. Toparia uma nova dobradinha com ele? 

R: O Batista é uma pessoa íntegra, pelo qual nutro respeito. Acho que pelos moldes como se vê a política hoje, pessoas sérias vão ser cada vez mais exceção à regra. A classe política, tem muito bandido, bandido da pior espécie; mas também tem gente honesta. O problema que com a demonização da política todos somos tratados como “Bandidos” e aí temos que ficar correndo atrás de provar que somos inocentes, quando os que nos acusam eram os que deveriam ter o ônus da prova. Por isso, gente séria dificilmente se mantém na política, por não aceitar ser tratado assim e isso vai abrir espaço cada vez mais para as pessoas inescrupulosas que não se incomodam com isso. Pois bem, o Batista faz parte do grupo de pessoas sérias! Retornado à sua pergunta, não estou mais filiado.

PT: nas eleições para governo você se envolveu na eleição, somente na eleição do Ney Amorim ao Senado, por quê? 

R: Na eleição para governo, minha vontade inicial era de não ter participado. Tinha vontade de ter viajado, tirado férias. Pois já tinha me envolvido na última eleição para governo e infelizmente não havia sido reconhecido. Não para mim quanto indivíduo, mas para as pessoas que entram na política com você acreditando que poderemos ter a chance de contribuir para a futura gestão. Emprestamos o nosso nome para ganhar, mas não para ajudar a administrar e inclusive o governo que fizemos o mais votado no estado, foi o mesmo que em vários setores estavam contra nós na eleição municipal. Pois bem, acabei me envolvendo, mas ajudamos a campanha não só do Ney, mas também a do Jorge e Marcus Alexandre. Claro, que em relação ao Ney, além da relação partidária, que eu tinha a época, também tínhamos uma relação de amizade e gratidão por ele ter sido um dos poucos a ter nos ajudado e reconhecido no âmbito estadual.

PT: depois da sua derrota na eleição, você perdeu o protagonismo dentro na cúpula petista, inclusive, tentaram transferir você de Tarauacá para Feijó. Houve algum atrito entre você e a cúpula pensante do PT? 

R: Acho que em relação à cúpula petista (irmãos Vianas) nunca tive protagonismo, nem mesmo quando ainda estava como prefeito! Sempre fui olhado meio atravessado e tratado da mesma forma. Inclusive cheguei a preparar a carta de desfiliação no meio do período eleitoral, falando algumas verdades, mas fui convencido a não fazer naquele período pois tinha muita raiva envolvida e com cabeça quente não era a melhor maneira. Mas não entrarei em detalhes, pois considero ser águas passadas. Tenho minha consciência tranquila e isso é o que importa. 

PT: você era visto como um nome que chegaria a Câmara Federal pela forma que foi eleito e como contagiou o eleitorado na sua primeira participação eleitoral. O que você acha que deu errado para que essa profecia não fosse concretizada, pelo menos até agora?

R: Acho que o nosso povo é extraordinário, nossa cidade é maravilhosa! Mas temos que acabar com a cultura do “eu”. Em Tarauacá, para uma parcela da população se você não fizer no individual, você não fez nada! Visitei uma casa no Bairro da Praia, no período eleitoral. Quando assumimos, fazia mais de 10 anos que não ocorria uma obra no bairro (a última tinha sido o mercado dos colonos com o Dr. Jasone). Pois bem, tinha um encarte com as obras que fizemos e as que já tínhamos conseguido recursos distribuídos por bairro e estava falando das obras que estavam beneficiando ele como morador do bairro da praia, e a filha dele estudava na Rilza [ escola municipal de ensino infantil Rilza Daniel] , escola que construímos uma quadra (graças a essa quadra as crianças passaram a ter direito a recreio e uma área de lazer para a escola e para o bairro), colocamos ar condicionado em todas as salas. Ele e a família se consultavam no posto Padre Hubert que foi construído e equipado em nossa gestão. O filho dele jogava bola na quadra de grama sintética e ainda frequentava a biblioteca que também construímos no bairro. Mas nada disso tinha valor, pois para ele mesmo eu não tinha conseguido nada. E isso, é relatado tanto pelos que tem pouco, como também por parte dos que tem muito, que querem que a gente dê algum tipo de vantagem pessoal em troca do apoio. Não adianta, falar dos recursos que circulavam na cidade com as obras (fomos o segundo maior captador de recursos junto ao governo federal, só perdíamos para Rio Branco e proporcionalmente estávamos inclusive a frente da capital), falar sobre os grandes eventos que fizemos, falar dos projetos (Saneamento, plano diretor, canais de drenagem, …), FGTS que conseguimos liberar, as alagações que passamos e a reconstrução da nossa cidade, nada disso era mais importante do que ouvir da gente uma promessa de favorecimento pessoal. Por isso, Leandro, acho que fizemos muito, mas talvez não fosse esse o “muito” que algumas pessoas quisessem. Talvez poderíamos ter melhorado mais na política, talvez sim! E outra coisa, que tinha e tenho muita dificuldade é em mentir, falo a verdade, mas nem sempre as pessoas estão querendo ouvir. Tenho muito receio quando escuto alguns pré-candidatos prometendo ajudar individualmente todo mundo, quando se começa mentindo para ganhar dificilmente conseguirá fazer um bom governo, pois hoje em dia na administração pública você não tem mais “as liberdades” que se tinha antes, hoje emprego público é concurso, compra pública é licitação. Então quem anda prometendo isso ou conhece de administração pública e é mal caráter, ou não faz ideia do que vai enfrentar. Acho que precisamos ter critérios mais coletivos e menos individuais nas próximas escolhas de nosso município, pois quando acertamos no coletivo todos ganhamos, mas quando erramos na escolha todos pagamos o preço!

Por Leandro Matthaus

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