terça-feira, 12 de novembro de 2019

Livro conta história de ex-soldados da malária que morreram após contato com inseticida no Acre


“Vítimas do DDT: um caso real” é um livro que, em mais de 300 páginas, conta a história das vítimas do inseticida Diclorodifeniltricloroetano, mais conhecido como DDT, usado para conter o mosquito da malária na região amazônica nas décadas de 70 a 90 no Acre.

O DDT começou a ser usado no Brasil logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, homens, sobretudo da região amazônica, conhecidos por ‘guardas mata-mosquitos’ ou apenas ‘soldados da malária’, foram recrutados para combater uma verdadeira guerra contra o mosquito vetor da malária e outras endemias.

Sem conhecimento e acreditando que o veneno era inofensivo ao ser humano, os agentes se embrenhavam na mata e tinham contato direto com o produto, usando apenas um chapéu de alumínio e uma farda. As consequências deste contato direto com o veneno ficou evidente anos depois.

No Acre, a Associação DDT e Luta Pela Vida foi criada em 2000 para contabilizar mortes ligadas a essa intoxicação, que não é reconhecida pelo poder público.

Em 2015, o assunto virou pauta de discussão nacional após o G1 mostrar como viviam alguns desses ex-guardas da Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam).

Os sintomas são, basicamente, a paralisia de alguns órgãos. Muitos vivem com amputações e diversos sintomas que impedem qualquer qualidade de vida.

E foi pensando nisso, que o pedagogo e escrito Emir Mendonça fez o primeiro esboço do livro que documentaria essa luta dos afetados. Antes de trabalhar na educação, ele conta trabalhava com o produto também, sendo inspetor geral de endemias e viveu a época ao lado dos colegas de trabalho, entre as décadas de 60, antes mesmo do boom da doença, e 90.


“O livro é um documentário, não quis fazer um livro poético. Falo de algumas aventuras da época, de gente que se perdeu na floresta, problemas enfrentados em viagens e entro mesmo na especificidade do produto DDT, explicando como era e os problemas de saúde que hoje sofremos devido ao contato com o veneno”, conta.

O livro também tem relatos de ex-soldados da malária e é composto por 314 páginas. Mendonça diz que pretende lançá-lo até o final deste mês em Rio Branco, mas pretende expandir o lançamento também para Brasília (DF) e Porto Velho (RO).

O autor, além de pedagogo, é articulista e atuou como professor até se aposentar. Ele está anunciado o lançamento do livro sobre o DDT um ano depois de ter lançado a obra “O câncer venceu o corpo, mas não o espírito da guerreira”, dedicada à sua filha, Evelyn Oliveira, que morreu em janeiro do ano passado aos 22 anos após perder uma longa batalha contra o câncer, que durou cerca de três anos.

Sem patrocínio, o aposentado arca com os custos da edição do livro sozinho. O escritor pretende chamar atenção do poder público para os ex-servidores que padecem ser apoio nenhum, mesmo tendo adquirido as doenças devido ao contato com o inseticida.

“O principal objetivo do livro é retomar a discussão dos doentes junto aos poderes públicos, na busca de reconhecimento e ajuda”, finaliza.

Por Tácita Muniz, do G1 Acre.

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