segunda-feira, 8 de junho de 2020

ANTIFA: movimento antifascista que tem ganhado repercussão no mundo inteiro


Antifa

"Lutamos contra eles escrevendo cartas para que não tenhamos que enfrentá-los com os punhos. Lutamos com os punhos para que não tenhamos que enfrentá-los com facas. Lutamos com facas para que não precisemos enfrentá-los com armas. Lutamos com armas para que não tenhamos que enfrentá-los com tanques." - "Murray" de Baltimore

Domingo, dia 07/06/2020, foram realizadas novas manifestações contra o governo do presidente Jair Messias Bolsonaro. 

Para entendermos melhor esses movimentos que estão começando no país, precisamos falar de Antifa, o movimento antifascista que tem ganhado repercussão no mundo inteiro. 

Em seu livro “Antifa: O manual antifascista” escrito originalmente em 2017, o historiador, especialista em direitos humanos, terrorismo e radicalismo político na Europa Moderna, Mark Bray conta a história do antifascismo desde os anos 1920 até o ressurgimento do movimento nos dias de hoje. Escrito originalmente em inglês, o livro foi traduzido para o português em 2019 e tem ganhado cada vez mais leitores e adeptos do movimento. 

Mas afinal, o que é Antifa?

O Antifa é um movimento sem liderança específica, mas formado por grupos de esquerda antifascistas, antirracistas, anticapitalista, contra a heteronormatividade e o sexismo. 

O Antifa é favorável à democracia, mas não se submete às regras da democracia burguesa e se propõe a despertar a consciência das pessoas para o jogo imposto pelos liberais que tenta a todos enganar quando defende a bandeira da “liberdade de expressão” única e exclusivamente, mas sem nenhuma reflexão. 

A defesa da liberdade de expressão acima de qualquer valor, longe está de ser uma posição neutra, mas apresenta antes consequências graves para a democracia. Para ficar mais claro o que estamos dizendo, colocamos abaixo a citação de Bray:

A liberdade de expressão é frequentemente comparada a um mercado de ideias. Incorporada nessa metáfora está a noção liberal estadunidense de que a chave para combater o “extremismo” é confiar na essência supostamente meritocrática da esfera pública: se todas as pessoas tiverem permissão para dizer, então as boas ideias irão flutuar para o topo enquanto as más afundarão pelo ralo, como se fosse um fórum do Reddit na vida real. 

O “extremismo” (um termo aparentemente inócuo que os centristas usam para confundir nazistas com anarquistas e jihadistas com comunistas) surge quando esse processo “natural” de troca discursiva é impedido. A conclusão é que aquele que interrompe um orador fascista se aproxima mais do “fascismo” do que alguém que está realmente combatendo o fascismo.
[...]
De fato, a metáfora do “mercado de ideias” descreve perfeitamente a dinâmica de poder da liberdade de expressão em uma sociedade capitalista, embora não da maneira que seus proponentes pretendiam. 

Corporações multinacionais que aspiram o controle monopolista do capital e da informação estabelecem os limites gerais em que a grande maioria da humanidade vende seu trabalho e articula sua fala. O mercado de commodities é inseparável do mercado de ideias, uma vez que as ideias são mercantilizadas junto com tudo que há na sociedade capitalista. Todos os cidadãos não-encarcerados podem literalmente possuir o mesmo direito de fala, mas a capacidade de fazer esse discurso ser ouvido e fazer com que seja importante é altamente estratificada. (BRAY, 2019)

Muito se questiona o movimento pela sua radicalidade, sendo acusado de ser tão fascista em seus atos quanto os seus reais opositores: os fascistas. Isso por não permitirem aos fascistas a mesma capacidade de se expressarem e nem o direito a se mobilizarem, pois a oposição é real e não ficcional. No entanto, não devemos comparar táticas, mas as razões de cada um dos grupos: não é o mesmo ser misógino e ser feminista, racista e antirracista, imperialista e anti-imperialista, essas são dicotomias essenciais para entender a diferença entre ser fascista e ser antifascista, um não habita o outro e jamais podem coabitar. 

Portanto, é preciso compreender que o princípio fundamental do Antifa é lutar contra o fascismo, tendo em vista que o fascismo é a representação de toda a intolerância existente contra a diversidade da vida. Ser tolerante com o intolerante é permitir que a intolerância, o preconceito e as atitudes antidemocráticas se perpetuem pela sociedade. Permitir que o fascismo cresça, sobre a mera alegação de liberdade de expressão, é o mesmo que ter liberdade para retirar liberdades, ter direitos para se retirar direitos, como uma cobra que come o próprio rabo: a destruição é inevitável. A diversidade não se constrói com a intolerância e o fascismo é a face abjeta da intolerância. Isso precisa ficar bem claro para que se possa entender o movimento antifascista como um todo.

Para os liberais, a principal questão é sobre o direito de liberdade de expressão dos fascistas. Para os socialistas revolucionários da Antifa, a questão primordial é a luta política contra o fascismo; dessa perspectiva, os direitos promovidos pelo governo parlamentar capitalista não são dignos de respeito. (BRAY, 2019)

O fascismo se oculta nas regras liberais dos direitos e deveres do cidadão para se apoderar do discurso e fazer a sua interdição, determinando o que pode ou não pode ser dito. 

O poder sobre o discurso permite que se controle ideologicamente as pessoas sem que elas muitas vezes se apercebam disso. De acordo com o livro, podemos retirar cinco lições principais com o Antifa:

1. As revoluções fascistas nunca foram bem-sucedidas. Os fascistas alcançaram o poder legalmente.
2. Muitos líderes e teóricos antifascistas do período entre guerras não levaram o fascismo verdadeiramente a sério até que fosse tarde demais.
3. Por razões ideológicas e organizativas, a liderança socialista e comunista demorou mais que sua base para avaliar com precisão a ameaça do fascismo.
4. O fascismo rouba da ideologia, da estratégia, da cultura e do imaginário de esquerda.
5. Não é preciso um grande número de fascistas para conceber o fascismo.

O Antifa se articula para desestruturar o fascismo na sua gênese e acabar com o mal pela própria raiz para evitar que ele retorne e se renove mais uma vez. É preciso destruir o ovo da serpente e, para isso, quanto mais membros integrarem o movimente, mais rápido eliminaremos o mal do fascismo no mundo.

Referências

BRAY, M. Antifa. O manual antifascista. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.

BLOG DA INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA

Nenhum comentário: