terça-feira, 16 de março de 2021

Ação contra garis derrubou de vez a máscara de bom velhinho do prefeito Tião Bocalom

Angélica Paiva, do Notícias da Hora Coluna da Angélica 16 Março 2021

No chão

A decisão de colocar a tropa de choque da polícia militar contra os garis, derrubou de vez a máscara de bom velhinho do prefeito Tião Bocalom (PP) e a face por trás da máscara surge com um desenho autoritário e cruel. Bocalom é defensor do trabalho durante a pandemia. Esquece o prefeito que o trabalhador não trabalha por hobby, o faz por necessidade. Vende sua força de trabalho, seu tempo, sua energia, por um salário insuficiente para sua sobrevivência digna. Trabalho sem remuneração é escravidão e esta foi abolida em 1888. Usar a força do Estado contra trabalhadores desesperados por falta de pagamento soa como uma confissão de incompetência.

Doído

Triste ver trabalhadores fardados investirem contra trabalhadores civis que pedem o pagamento atrasado há dois meses, para defender a suposta “ordem” numa gestão em que o prefeito passa mais tempo nos ares do que em terra. Anos atrás, acompanhei a recusa do Coronel Hid em dar ordem à sua tropa para derrubar barracos em uma ocupação. Estava ao lado dele quando recebeu a ordem do comandante da PM do Acre para que os tratores passassem por cima dos barracos. Pela recusa em obedecer, o Coronel Hid foi preso e recolhido ao quartel da PM, com a consciência tranquila por não ter infligido mais sofrimento aos pobres. Um gesto nobre esquecido pela história. O fato omitido da memória do estado me impede de lembrar quem era o comandante da PM à época, assim como o governador, mas serve para mostrar que existem sentimentos nobres. O que deveria ser a regra e não a exceção.

Repercussão

Tião Bocalom conseguiu ser o assunto mais comentado nas redes sociais. Entre a maioria que condenou o gesto e uns poucos defensores, a autopromoção dos políticos vencidos nas urnas. Bocalom bateu um recorde difícil de ser superado. Eleito com quase 63% dos votos, jogou a popularidade no lixo em três meses. Enquanto a pandemia avança sobre a população e a campanha de vacinação anda a passos lentos, o prefeito prioriza viagens em busca de recursos para “Produzir para Empregar”. É o clássico caso da pessoa que tropeça nas pedras do chão por olhar para as estrelas. A população não quer promessas de caviar, quer feijão com arroz na mesa, agora. Sem esquecer que para Produzir para Empregar é preciso vacinar a população, caso contrário será produzido em cima de cadáveres. Em tempo, para Produzir para Empregar, é preciso pagar e PM não é moeda de pagamento.

Ação

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB) vai denunciar ao Ministério Público, o prefeito Tião Bocalom (PP) e o governador Gladson Cameli, pelas agressões aos garis. A lógica é simples- Bocalom pediu a PM e Gladson cedeu. Ambos infringiram o artigo 5º da Constituição Federal que assegura a todo brasileiro a liberdade de manifestação e de pensamento e garante que todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização: “A ação da polícia foi abusiva, pois se utilizou de um uso excessivo da força para dispersar uma manifestação legítima e pacífica. E até agora o governador e o prefeito não apareceram para condenar essa atrocidade. Quem cala, consente, né!?”

Apedrejado

O deputado Jesus Sérgio (PDT), foi apedrejado por ter votado contra a PEC 186. Por desconhecimento ou má fé, dizem que ele votou contra o Auxílio Emergencial. Na verdade Jesus votou contra o arrocho do servidor público que teve os salários congelados em nome de um auxílio de R$250 por 4 meses. O parlamentar votou contra o congelamento permanente dos salários dos servidores estaduais e municipais e durante 15 anos dos salários federais para que a economia garanta o dinheiro para os banqueiros que lucram com os juros da dívida. Jesus, como outros deputados, defendeu o auxílio de R$600 sem o congelamento de salários do funcionalismo público.

...mas firme

O deputado Jesus Sérgio tem posições inabaláveis. Na semana passada ele destinou R$16,9 milhões para os municípios em vez de entregar o dinheiro para o governo como vinha fazendo. Antecipou a decisão da bancada federal que não viu resultado de todos os milhões enviados para o Executivo e preferiu injetar dinheiro diretamente nos municípios. A torneira da bancada federal fechando vai deixar o governador a seco, com o perdão do trocadilho. O Executivo acreano só vai contar com verbas de emendas dos deputados Vanda Milani (Solidariedade) e Alan Rick (DEM), além da verba da Saúde com a atenção do Ministério Público Federal.

Ajuda

Até aqui o governador Gladson Cameli contou com ajuda de todos os lados. A bancada federal se manteve unida para arrecadar recursos para o estado e abrir as portas dos ministérios para o governador. Algumas emendas não têm sequer projeto e o dinheiro corre o risco de ser devolvido ao governo federal. A União enviou recursos para o combate à pandemia. Até o Ministério Público Estadual auxiliou com a doação de 50 cilindros de oxigênio. Todo esse auxílio desconstrói a narrativa do herói solitário, que no fim das contas poderá mesmo acabar sem apoio.

Difíceis

Esses dois últimos anos de mandato tendem a ser de grandes dificuldades. O que normalmente acontece nos dois últimos anos do mandato, deverá ser potencializado. Não apenas pela perda de apoio financeiro direto da bancada federal, mas também pelo somatório de problemas provocados pelo descontrole sanitário causado pela falta de gestão da pandemia, do desemprego crescente e da retração econômica que diminui a arrecadação. Soma-se a isso o crescimento da violência, consequência natural da crise. Não é um desejo. É apenas uma análise fria de quem não vê o mundo através da perspectiva do poder, seja ele qual for.

Acordo

A base sustentação do governo reluta em cumprir o acordo com a oposição e com os independentes, selado por ocasião da reeleição de Nicolau Júnior (PP) para a presidência. Durante o processo de eleição, o grupo concordou em reeleger a mesa diretora desde que fossem mantidos nas Comissões Permanentes da casa. Bocado comido, bocado esquecido. Logo em seguida, começaram os movimentos para manter apenas deputados da base nas comissões, alijando a oposição e os independentes. O final de semana foi de intensas conversas entre os parlamentares da base para um lado, e os da oposição para outro. Os últimos não abrem mão da manutenção de suas posições, tendo como data-limite a terça-feira (16).

...na mesa

Oficialmente oposição mais independentes totalizam 6 deputados. Mas este cenário tem duas possibilidades de evolução que podem elevar este número para 9 parlamentares- O MDB pode evoluir para que Antônia Sales e Meire Serafim assumam posturas de voto com a oposição e Neném Almeida (Solidariedade) pode romper com o governo se não conseguir de volta os cargos. Antônia Sales, é o tipo de política que não volta atrás em compromisso assumido. Na base, a dificuldade maior é convencer um de seus membros a dar o lugar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), para o novo líder do governo, Pedro Longo (PV). A participação do líder na CCJ é uma necessidade para o Executivo, mas a base não tem o hábito de pensar o coletivo.

Lockdown furado

A polícia teve bastante trabalho para conter as festas no final de semana de lockdown em Rio Branco e agiu de maneira exemplar. Mas o pancadão realizado por um empresário não foi incomodado apesar das reclamações dos vizinhos importunados pelo barulho. Vários carros ocuparam a rua em frente à casa. Da série- o que as colunas sociais não mostram. Outro modo de burlar o decreto governamental foi a comercialização clandestina de gasolina. O produto estava sendo vendido por populares fora do horário estabelecido ao preço de R$8 o litro. Se tem uma coisa que supera as diferenças de classe no Brasil é a falta de consciência, fantasiada de “jeitinho brasileiro”.

Fora

A deputada Mara Rocha está de malas prontas para deixar o PSDB. Mara diverge das diretrizes adotadas pela executiva nacional do partido em relação a anulação das condenações do ex-presidente Lula e vai buscar nova sigla. Dentre os vários partidos que se ofereceram, a opção parece ser mesmo o PL da bispa Antônia Lúcia, ligado às igrejas evangélicas. Embora haja quem aponte um jogo obscuro de apropriação do PSDB local, como um dos motivos. É só ficar atento e ligar os fios para chegar à conclusão óbvia e ululante. Entre os detalhes, uma história bem estranha sobre a verba de campanha do PSDB que só teria sido liberada para os candidatos uma semana antes da eleição municipal, por conta de um acordo fechado em São Paulo.

Bom dia deputada Vanda Milani. Vossa excelência conhece aquele ditado: “a formiga quando quer se perder cria asas”?

noticiasdahora.com.br

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