segunda-feira, 10 de maio de 2021

Lugar de criança é na escola



É sabido que não há outra forma ou meio de se atingir o desenvolvimento de um território, seja do país, do estado ou a nível de município que não seja pela Educação.

A educação brasileira já não vinha bem antes da pandemia. O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), realizado a cada três anos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrou que o Brasil é a segunda economia mais desigual do ponto de vista educacional. No ranking geral do PISA – pasmem! – ficamos na posição 60 entre os 79 países que participaram do levantamento em 2020. Certamente os problemas se acentuaram no decorrer da ocorrência da Pandemia, com a suspensão das aulas presenciais e a adoção do sistema de aulas remotas.

A demora no processo de tomada de decisão quanto a vacinação da população, notadamente dos profissionais da educação que até agora ainda não constam nos grupos prioritários, motiva o longo período de afastamento dos alunos de sala de aula, até como medida preventiva à saúde dos professores, crianças e jovens.

Por outro lado, a ausência da sala de aula ensejou o ensino remoto com uma série de limitações. Falta de treinamento do corpo docente para novas metodologias de ensino com uso de plataformas digitais; distanciamento do convívio escolar; dificuldades de acesso a internet para um grande contingente de crianças e adolescentes participarem das aulas a distância; além da suspensão da merenda escolar para milhões de crianças das escolas públicas.

Nesse sentido, o IBGE revela na PNAD Contínua TIC 2019 dados sobre o Acre onde consta que 78 mil domicílios do Acre não utilizavam Internet. Os motivos mais citados para isso somam 34,4% de respostas relacionadas a conhecimento – “falta de interesse em acessar a Internet” (16%) e “nenhum morador sabia usar a Internet” (18,4%); 16,4% relacionadas a problemas financeiros – “serviço de acesso à Internet era caro” (11%) e “o equipamento eletrônico para acessar a Internet ser caro (5,4%); mas a principal razão alegada é mesmo “o acesso à Internet não estar disponível na área do domicílio”, com 47,6% das respostas.

Ainda segundo a PNAD os equipamentos utilizados para acessar a Internet eram o telefone celular, seguido pelo microcomputador e por último o tablet. Mas em 2019, no Acre, 212 mil pessoas não tinham telefone celular para uso pessoal, representando 29% da população de 10 anos ou mais de idade.

Esses dados refletem as dificuldades de milhares de crianças que não puderam acessar as aulas remotas por não dispor de acesso à Internet, e outros como: a família dispõe de um único telefone celular para atender as crianças e jovens de séries diferentes.

Essas questões redundarão no aprofundamento do déficit de aprendizagem, no aumento da evasão escolar e no possível abandono definitivo da escola, principalmente por jovens que optam pelo trabalho na área rural ou no subemprego urbano. Imaginem os prejuízos para o nosso país, que demandará muitos anos para recuperar os danos causados por essa crise sanitária, com aprofundamento das desigualdades sociais, econômica e educacional.

Se já não bastasse isso, tramita na Câmara Federal, em caráter de urgência, um projeto de lei que regulamenta o ensino domiciliar, no qual os pais ficam responsáveis pela educação formal dos filhos, prática pomposamente chamada de homeschooling. Comenta-se que isso é compromisso do Governo com sua base conservadora. Com isso, pretendem acabar com a obrigatoriedade de crianças de 4 a 17 anos frequentarem a escola.

Se aprovada, os danos à educação serão enormes, visto tratar-se de uma ideia seletiva. Nem todos os pais têm condições e formação adequadas para assumir essa complicada tarefa educacional que envolve não apenas o ensinamento de valores, mas também a instrução e o desenvolvimento de diversas habilidades específicas. Os mais prejudicados, como sempre, serão os mais pobres e as famílias de menor escolaridade. Para a Diretora da ONG Todos pela Educação, Priscila das Cruz, “a ideia do homeschooling é pautada pelo fim do convívio com o diferente e com a diversidade do ambiente escolar.”

O mais preocupante são os interesses que alimentam e dão força a essas ideias, o negacionismo e a rejeição ao conhecimento.

Chama atenção trecho de uma entrevista concedida à revista Carta Capital pela educadora e gestora pública, Cláudia Costim: “o problema não é só a educação de futuras gerações, mas também de uma sociedade que não quer ter contato com o saber, com a ciência.”

Portanto, lugar de criança é na escola.

Raimundo Angelim escreve todos os sábados do ac24horas.com

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