Em alguns casos, pedidos de voto feitos explicitamente por pastores levaram a protestos de frequentadores
Por Jéssica Marques — Rio de Janeiro
Ruben Lima, pastor da Assembleia de Deus, em Botucatu (SP), promete disciplina para eleitor de Lula Reprodução/YouTube
A entrada explícita da
campanha eleitoral em templos evangélicos, como O GLOBO mostrou, tem causado, em alguns casos, reação de fiéis ao chamado "voto de cajado" e já motivou até briga com violência política. Falas de pastores e líderes religiosos pedindo que frequentadores votem e elejam candidatos que, segundo eles, seguem os direcionamentos de Deus têm motivado migração e saída de evangélicos para congregações apartidárias. O cenário de violência motivou manifestações de preocupação entre a classe religiosa.
Religioso em pregação na Igreja Presbiteriana de Santa Fé, no Paraná: “Fogo no PT” — Foto: Reprodução da Internet
A briga começou após uma pregação do pastor Djalma Pereira Faustino, que pedia para os fiéis não votarem "em vermelhos", em referência aos partidos de esquerda. Souza e outros frequentadores da congregação ficaram indignados. A Polícia Civil informou a O GLOBO que o caso está sendo investigado pela 21°DP de Goiânia e que, até o momento, segue fazendo diligências para apurar "toda a dinâmica e responsabilidades do fato, mas que não pretende se manifestar com detalhes para não causar prejuízo à investigação”.
O pastor Djalma Pereira, afastado de suas atividades por decisão do conselho da igreja, ainda não prestou depoimento. Já o policial Vitor da Silva, autor dos disparos, compareceu à delegacia na sexta-feira passada.
No mesmo dia, um vídeo compartilhado por um internauta no Twitter mostra o ex-ministro Marcos Pontes, candidato ao Senado pelo PL de São Paulo, pedindo voto durante a celebração do culto no Colégio Batista Brasileiro, em São Paulo. Na ocasião, o candidato, apoiado por Jair Bolsonaro, mal concluiu sua fala quando foi interrompido pelo fiel:
“Tá errado isso aqui. Tá errado! Isso aqui é a casa do Senhor. Isso aqui não é lugar de política. Vocês estão todos errados. Eu vim aqui emprestar minha voz ao culto. Eu não vim aqui fazer isso”, disse.
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A situação deixou o candidato e o pastor desconfortáveis. O vídeo mostra o desapontamento de Pontes, cuja apresentação havia sido autorizada por um dos pastores que comandaram o culto:
— Todos candidatos a uma função pública digam só o seu nome e o cargo que pretende — disse o religioso, sem imaginar que nem todos entre os fiéis concordariam com esse tipo de conduta dentro do templo.
No mesmo culto — que comemorava os 80 anos da Ordem dos Pastores Batistas de São Paulo —, Sylvio Malheiro (PTB-SP), coronel da Força Aérea Brasileira, aproveitou para anunciar que é candidato deputado federal.
“Glória a Deus por essa oportunidade de estar aqui entre irmãos. Sou candidato a deputado federal".
Pastor Wesley pede para que fiéis não votem em Lula e justifica dizendo que recebeu uma profecia — Foto: Reprodução da Internet
A liberação do pedido de voto autorizado pelo pastor no Colégio Batista Brasileiro foi semelhante à que ocorreu em dezembro, na Igreja Batista de Água Branca, uma das mais tradicionais do país, na capital paulista. Na ocasião, a autorização foi dada pelo pastor Ed René Kivitz, líder da congregação e crítico do presidente Jair Bolsonaro (PL). O religioso foi desligado dos quadros da igreja.
No Rio, o locutor de comício Gabriel Granja disse que ele e a mulher deixaram de frequentar a Segunda Igreja Batista Bandeirantes, em Santa Cruz, há quatro meses, porque estavam sendo excluídos por lideranças e frequentadores. O local, ele conta, estava sendo usado como palanque político para promover e pedir votos a determinados candidatos, e o casal se posicionou contra congregação. Atualmente, o locutor faz parte da Igreja Batista Vila Alexandrino, também em Santa Cruz, e diz que trocou de comunidade porque não queria ser forçado a votar por orientação dos líderes religiosos.
— Eles nos intimaram a votar no Bolsonaro e falavam mal da esquerda. Eles nos olhavam torto e diziam “ou você é Bolsonaro ou você não é bem-vindo na igreja". Eu disse que não me identificava com nenhum dos candidatos que eles queriam que a gente apoiasse. Eles começaram a excluir eu e minha esposa. Nem bom dia nos davam mais — contou Granja.
Fonte: o globo