sexta-feira, 29 de julho de 2011

Política ou politicagem?




Ou lutamos pelo certo, ou nem valeria a pena lutar...

É muito comum confundirmos Política com politicagem. No Brasil, estamos acostumados com o avesso da Política ideal, ou seja, com a politicagem, a malandragem, a demagogia. A Política é o gerenciamento da coisa pública com lisura e o governo para todos com a gestão dos negócios públicos visando objetivos nobres para a conquista do bem comum dos cidadãos. Para sintetizar essa diferença entre Política e politicagem, ninguém melhor do que um dos mais ilustres brasileiros de todos os tempos, o magistral Rui Barbosa: “Política e politicagem não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas ou tradições respeitáveis. A politicagem é a indústria de o explorar a beneficio de interesses pessoais".

Exposta essa diferença crucial, já é possível identificarmos a causa da repulsa do povo brasileiro às questões políticas que tanto nos afetam. Qualquer cidadão de bem se sente impotente e desencorajado diante das enxurradas de denúncias e outras inúmeros artifícios demagógicos usados por homens públicos inescrupulosos. Ou seja, boa parte dos políticos acaba se valendo de alguns privilégios advindos da sua autoridade para obter vantagens para si mesmo ou para pequenos grupos, o que acaba por manchar a imagem da classe política como um todo. No entanto, esse estigma que os políticos carregam é algumas vezes injusto e desestimula a ação política, pois existem pessoas na Política interessadas em construir uma sociedade melhor e que trabalham de verdade para isso, mas acabam sendo também incluídas na categoria da “farinha do mesmo saco”, o que contribui para uma a fixação de uma imagem estereotipada e preconceituosa no imaginário nacional. E Falar simplesmente que não gosta de política e cruzar os braços é tornar cada vez mais raro a possibilidade de existir os políticos realmente interessados em construir uma sociedade melhor e mais justa.

Afinal de contas, é óbvio que os homens públicos que compõe a classe política nacional não caem do céu diretamente nos seus gabinetes. Eles são eleitos por nós, uma vez que vivemos numa democracia eleitoral e são eles provenientes da sociedade, do povo. Se uma grande parcela desses políticos são desonestos e corruptos e não cumprem a função para a qual foram eleitos, isso é porque nosso povo é igualmente corrupto e desonesto, já que nossos dirigentes são parte também da sociedade, a qual é simplesmente o espelho da nossa elite política. O tão conhecido “jeitinho brasileiro” de burlar regras, quebrar convenções, sonegar impostos, furar filas, o famoso “QI” na hora de conseguir emprego, o nepotismo e o desprezo generalizado pela meritocracia estão na raíz de toda a bandalheira que vemos na política nacional. Isso referindo-me apenas a fatores gerais de ordem cultural, sem entrar em maiores detalhes quanto às nossas práticas sociais, políticas e econômicas mais arraigadas que contribuem sobremaneira para a manutenção desse quadro lamentável: No qual pessoas são indicadas por comodidade política e não por competência, onde temos deliberações de administradores públicos que visam atender interesses escusos e não o bem estar da população.
 
No entanto, no geral, podemos afirmar que nosso povo mantém uma postura apolítica e conformista, somente atribuindo culpa às classes políticas dirigentes ou às elites tradicionais por todas as nossas mazelas sociais, procurando eximir-se da responsabilidade compartilhada enquanto nação. É preciso dizer em alto e bom som que o Governo e os poderes públicos nunca deram conta, não dão conta e nunca darão conta dos inúmeros problemas e desafios político-sociais que temos a enfrentar. Assim sendo, é de vital importância a conscientização da necessidade da atuação combativa da sociedade, questionando e cobrando os políticos, atuando diretamente em prol de causas sociais, participando das organizações não-governamentais e se articulando de todas as maneiras possíveis para tentar suprir as inúmeras insuficiências e falhas do poder público constituído.

Uma maior mobilização de todas as camadas da sociedade somadas à vontade política e à conscientização da necessidade da substituição dos interesses mesquinhos pela ética e pela moral como norteadores da ação político-social podem nos indicar um caminho na busca da construção de uma sociedade mais equitativa.

Desta forma, cabe a nós pessoas de bem lutar por uma sociedade mais justa onde os excluídos possam começar a serem valorizados e o bem público comece a ser usado para atender os interesses da população e não para privilegiar uma minoria que sempre se acostumou a se dar bem a custa da massa sofrida. Ou lutamos pelo certo, ou nem valeria a pena lutar...
Texto de Rodrigo Damaseceno.

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