“As mães não querem mais filhos poetas.” Hilda
Hilst
O mundo não quer mais poetas. Precisa-se de homens práticos não importa se de
terno e gravata importa-se tecnocratas. O céu é azul – oh verdade estúpida – as
andorinhas voejam as estrelas estrelam mas os olhos sumiram para as belezas
invisíveis. O mundo é só uma tela de cristal. No mar de luz imerso floresce a
cegueira dos que tudo vêem. Vida nua. Poetas sem teto na rua. É apenas um astro
a lua. No caminho de casa encontro todo dia o “bicho-homem” de Bandeira que me
faz sentir estrangeiro ante a minha própria indiferença de brasileiro. Avante
homens práticos. Marchem. Não gozem. Não relaxem. Ergam arranha-céus – os mais
perfeitos mausoléus –. Na minha rua há uma igreja enquanto o padre oferece o
divino Corpo de Cristo bem a sua frente outras menos afortunadas (quem sabe)
oferecem o ardor lascivo do corpo humano em chamas. Quem suportaria tantos
clamores? Vi Deus fugir de sua prisão enfastiado de anjos e santos e nenhum
demônio. Agora Deus é ora um louco, ora uma criança: todos fingem ouvi-lo, mas
ninguém o leva a sério. O absoluto tornou-se obsoleto. Sequidão: a última gota
de orvalho Debate-se contra o mármore e o asfalto quente. Verdade: o poeta é
apenas outro pobre animal carente, de si, eterno descontente!
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