quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Eleição, corporativismo e PSDB dificultam reforma da Previdência

Temer apresenta a deputados nova proposta enxuta

Há chance de ser aprovada a nova proposta de reforma da Previdência, mas haverá resistência mesmo a esse projeto desidratado.

O governo esperava mais de 200 deputados federais no jantar de ontem no Palácio da Alvorada no qual foi apresentado o novo texto. Convidou 300 e apareceram cerca de 180. É sinal de dificuldade.

Mas há três obstáculos maiores. O primeiro deles é que o Congresso sempre tende a mudar uma proposta do Executivo. Apesar de essa versão da reforma da Previdência já ter feito concessões em relação ao texto votado em maio, é provável que os deputados queiram modificar algo.

Isso é uma forma de dizer ao eleitorado que atuaram para diminuir o peso de medidas impopulares. O fator eleitoral terá peso.

O segundo obstáculo é o corporativismo. A atual proposta endurece as regras para os servidores públicos. O lobby do funcionalismo, sobretudo da magistratura e do Ministério Público, é muito forte na Câmara e vai lutar pela manutenção de seus privilégios _algo inacreditável em tempos de crise, no qual os mais ricos deveriam dar contribuição maior do que os mais pobres.

Por último, permanece a indefinição na reforma ministerial em relação à articulação política. Enquanto esse nó não for resolvido, haverá insatisfeitos dos diversos lados, o que atrapalha a articulação para obter os 308 votos necessários.

Uma vez resolvido, uma ala fica mais contente e outra permanece reclamando, mas a contabilidade de votos se torna mais realista. Temer tem de desatar esse nó, decidindo sobre a articulação antes da votação da reforma da Previdência ou aguardando o resultado da nova investida.

Fisiologismo explícito

Depois de acertar a indicação do deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS) para a Secretaria de Governo, o presidente suspendeu a nomeação. A conta do Palácio do Planalto no Twitter chegara a anunciar a posse de Marun no lugar de Antonio Imbassahy.

Mas houve reações duras do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Os dois são aliados importantes de Temer e barraram a nomeação de Marun, que havia se reunido com Temer e acertado que não disputaria a reeleição em 2018 a fim de ficar no posto até o fim do governo.

Temer também discutira a indicação com o PMDB da Câmara e outras forças do Centrão, grupo que reúne legendas conservadoras no Congresso. Agora, o presidente está refazendo os cálculos.

Com Marun, avaliava que teria os votos para aprovar a reforma, porque o PSDB e a maior parte do Centrão se comprometeriam a apoiar o projeto. Mas os tucanos votaram apenas uma recomendação de voto e não fecharam questão.

O discurso tucano pró-reforma da Previdência é dúbio. Serve para justificar o rompimento com o governo, suavizando o fato de que os tucanos estão saindo por cálculo político depois de terem avalizado a ascensão do PMDB ao poder.

Há uma parcela da bancada de deputados federais que não quer votar a reforma da Previdência. A indicação de Marun serviria de pretexto a reforçar essa resistência na bancada tucana, alertou Aécio.

Temer está inclinado a bancar Marun, mas isso vai depender da conta de chegada para votar a reforma da Previdência. Uma ala tucana deseja romper com o governo, pero no mucho. O motivo são benesses oficiais fundamentais para fortalecer candidaturas em 2018.

KENNEDY ALENCAR 
BRASÍLIA

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