quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

O POVO NÃO CONHECE OS POLÍTICOS POR DENTRO

Um dia, há dez anos, eu estava em frente à Assembleia Legislativa, quando chegou um homem chorando muito. Quando ele se aproximou, perguntei:

- Posso fazer alguma coisa pelo senhor?

- Eu queria falar com um deputado. Mas, me disseram que é muito difícil.

- O que o senhor quer falar com um deputado? Percebi que ele não sabia que eu era parlamentar.

- Eu preciso pedir uma passagem pra Cascavel, no Paraná. Minha mãe acabou de falecer e eu estou desempregado.

Na mesma hora, peguei o telefone e autorizei a passagem dele de avião, pois ir de ônibus não daria tempo de ele chegar pra ver sua mãe antes do enterro.

Aquele homem nunca soube que eu era deputado e nunca votou em mim. Mas, com a simples e mágica palavra 'mãe', me levou a praticar a minha primeira "corrupção", porque a lei só permite dar passagem para o parlamentar e seus assessores.

É crime, por exemplo, o deputado dar uma passagem para alguém com câncer viajar pra fazer quimioterapia. Aí tem que dar do próprio salário. Como havia meses em que eu dava até quatro passagens, na maioria das vezes, com acompanhante, era impossível manter essas ajudas com o meu salário, que eu usava pra sustentar a família, aonde só eu era empregado.

Aí eu usava da verba indenizatória, pra comprar essas passagens. Essa verba só pode ser usada para bancar ações do mandato: passagens, gasolina, aluguel de carros e escritório, material gráfico, alimentação, divulgação, consultorias.

Quantas vezes aluguei ônibus para jovens ir a congressos estudantis, participar de jogos e festivais de teatro. Às vezes, o frete para São Paulo ou Recife custava 15 mil reais e meu salário, à época, era 12 mil. Como pagar com o meu salário?

Fretei dezenas de aviões pequenos pra trazer agricultores picados de cobra ou mulheres indígenas grávidas, de Jordão, Tarauacá. Ou fretava o avião ou a criança morria no útero da mãe.

Do ponto de vista da lei, tudo isso era “crime”. A única diferença era que eu cometia um delito de coração, e não para o meu enriquecimento.

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