quarta-feira, 24 de março de 2021

Estudante adapta ‘sala’ em cima de árvore para acompanhar aulas remotas, no PA: ‘construindo um sonho’



A vontade de transformar sonho em realidade tem sido a motivação para um adolescente de 15 anos em Alenquer, no oeste do Pará. Para não perder aulas, Artur Ribeiro Mesquita adaptou uma “sala de aula” em cima de uma mangueira para acompanhar as explicações dos professores através da internet.

Ele e a família moram em uma comunidade na região conhecida como Estrada do Sena, que fica distante cerca de 17 km do centro da cidade. Na localidade o sinal de celular e internet é ruim, e a maneira encontrada por Artur foi subir todos os dias na árvore para acessar o conteúdo escolar.

Entre os galhos do pé de manga foram colocadas tábuas que servem de suporte para o estudante acompanhar as aulas sentado e também para apoiar o celular.

Artur está no 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Professora Beatriz do Vale e, apesar das dificuldades, não pensa em abandonar as aulas. “A gente tem que aproveitar as oportunidades. Estou aqui na roça, mas vou seguindo”, disse.

Apostilas e a “descoberta do sinal”


Adolescente de 15 anos driblou dificuldades para não perder aula — Foto: Lúcia Ribeiro/Arquivo Pessoal.

Antes dos estudos remotos, o pai de Artur ia de moto até a cidade buscar apostilas com as atividas que o filho tinha que estudar. No entanto, como não tinha possibilidade de questionar quando houvesse dúvidas, a aprendizagem ficava prejudicada. “Com a aula remota ficou um pouco mais fácil para entender o assunto”, contou.

Em uma das noites na comunidade, o estudante e os irmãos tentavam encontrar sinal telefônico. Ao chegar próximo à mangueira perceberam que a intensidade aumentava. Eles tiveram a ideia de subir na árvore e constataram que lá tinha acesso à internet.

Desde então, o lugar na árvore serve para comunicação na rede de computadores, não apenas da família, mas de outras pessoas que moram perto da casa de Artur.

Impactos da pandemia

Família de Artur embaixo da mangueira, que teve uma ‘sala de aula’ adaptada para aulas remotas — Foto: Lúcia Ribeiro/Arquivo Pessoa

Artur, os pais e os irmãos moravam na cidade. Como a pandemia da Covid-19 causou impactos em vários setores, a família resolveu ir para a zona rural do município, assim poderia ficar mais isolada e segura.

Para a agricultora Lúcia Helena Ribeiro, mãe de Artur e outros quatro filhos, foi um período de adaptações, inclusive em relação à educação dos filhos.

“A gente morava na cidade, tinha internet, tinha tudo, mas mudamos para a colônia. Chegou aqui e começaram as aulas remotas e a internet é muito ruim. Corre menino para cima da mangueira, leva menino para a cidade, foi uma loucura. Lá em cima [da mangueira] o sinal é melhor”, disse.
Além de Artur, outros dois irmãos mais novos estudam. Eles têm deficiência auditiva e isso impossibilita a aprendizagem pela internet e suas limitações de conexão. Lúcia Helena achou melhor enviar os irmãos Alex e Alan para a cidade, porque lá eles recebem acompanhamento de professores especializados.
portaltarauaca

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